1 Noções
da História
O
JUDÔ teve sua origem quando o Professor Jigoro Kano procurou sistematizar as
técnicas de uma arte marcial japonesa, conhecida como “Jujitsu” e fundamentar
sua prática em princípios filosóficos bem definidos, a fim de torná-la um meio
eficaz para o aprimoramento do físico, do intelecto e do caráter , num processo
de aperfeiçoamento do ser humano.
Nesse
contexto, invariavelmente surge a questão: Porque chamar de judô ao invés de
Jujitsu como já era conhecida a arte marcial?
Para
poder entender a razão e a dimensão pretendida por essa mudança, deve-se buscar
e interpretação no processo histórico que envolve o cultivo do “Budo” nas
antigas formas de artes marciais do Japão.
Segundo
T. Watariabe (1967) “Budo é uma palavra característica do povo japonês e sua
origem se encontra nas formas de autoproteção que permitiram a sobrevivência
dos indivíduos e a perpetuação da espécie humana através do tempo”.
Essas
formas de autoproteção, que constituíram as artes marciais, nasceram da qualidade
de vida que o povo japonês impôs a si próprio, diante da necessidade que tinham
de se defender. Daí, então, surgiram os indivíduos com grande habilidade e
treinamento nas artes marciais, formando uma casta de guerreiros conhecidos
como “samurais”, a serviço dos senhores feudais.
Durante
o período medieval japonês, do século XIV ao XVIII, aproximadamente, as artes
marciais tiveram grande; importância por seu uso militarista, apresentando
evidente progresso técnico, destacando-se os grandes talentos em todas as
formas de luta pela preservação da vida, utilizando-se de armas como sabres,
lanças e outros instrumentos, bem com métodos de combates com as mãos nuas. Ao
mesmo tempo em que aprimorava o físico para adquirir destreza na arte marcial,
o “samurai” desenvolvia formas de dominar seus próprios impulsos e controlar
sua vontade, em alto grau, para poder enfrentar as adversidades corajosamente
“até a morte”. Essa filosofia de vida era a alma das artes marciais e
entendiam, os samurais, que ela só poderia ser atingida através de árduo
treinamento para desenvolver o espírito de luta – “Budo” – através da busca da
serenidade, da simplicidade e do fortalecimento do caráter, qualidades próprias
da doutrina ZEN. Um código de honra, ética e moral, o “Bushido”, conhecido como
via do guerreiro, foi elaborado com forte influência do Budismo, alicerçando-se
na preservação do caráter máximo, tal como honra, determinação, integridade,
espírito de fé, imparcialidade, lealdade e obediência; preconizando uma forma de
viver pela conduta de cavalheirismo, respeito, bondade, desprezo pela dor e
sofrimento.
Como
uma das formas de arte marcial surgiu o Jujitsu, luta corporal sem uso de
armas, não tendo porém, registro preciso de sua origem. Algumas citações
encontradas no “Nihon Shoki”, que é uma crônica antiga do Japão, fazem
referência ao início do Sumô que teria alguma relação com o Jujitsu naqueles
tempos. Houve, então, evolução desses dois tipos de lutas corporais, em que o
Sumô estabeleceu-se à base do uso da força e do peso, sendo orientado no
sentido do espetáculo e o Jujitsu na base da habilidade, da astúcia e da ética,
foi consagrado como combate real.
A
prática do Jujitsu levou à criação de inúmeras escolas, cujas características
eram a especialização dos professores em determinadas técnicas, adotando
estilos próprios e secretos, cujos princípios de ensinamento se apoiavam no
conhecimento axioma empregado pelos “samurais”. “Na suavidade está a força” (Ju
= suavidade; Jitsu = arte ou prática). Dentre essas escolas, duas delas foram
especialmente estudadas pelo Professor Jigoro Kano, Kito-Ruy e
Tenshinshinyo-Ryu.
A
abertura dos portos japoneses em 1865, provocou intensas transformações do
ponto de vista político-social, marcando a era “Meiji”, quando foi abolido o
sistema feudal, com rejeição da cultura e das instituições antiquadas,
introduzindo-se os conhecimentos dos países ocidentais, ocorrendo acentuado
declínio das artes marciais, em completo desuso no país. O Jujitsu não foi
exceção, pois as escolas ficaram privadas das subvenções dos clãs e, ainda a
modernização das forças armadas levaram essa arte marcial a ser considerada
parte do passado e em total decadência.
Jigoro
Kano, um jovem de físico franzino, graduado em filosofia pela Universidade
Imperial de Tóquio, tendo conhecimento do Jujitsu, observou que suas técnicas
poderiam ter valor educativo na preparação dos jovens, no sentido de oferecer
ao indivíduo oportunidade de aprimoramento do seu autodomínio para superar a
própria limitação. Assim, passou a ter como meta transformar, aquela
tradicional arte marcial num esporte que pudesse trazer benefícios para o
homem, ao invés de utilizá-la como arma de defesa pessoal simplesmente.
Aprofundou
seus estudos, pesquisando e analisando as técnicas conhecidas; o Professor Kano
organizou-as de forma a constituir um sistema adequado aos métodos
educacionais, como uma disciplina de educação Física, evitando as ações que
pudessem ser lesivas ou prejudiciais à sua prática por qualquer leigo. Com esse
intuito, em 1882 fundou sua própria escola e, para distinguir, de maneira
evidente, das formas que identificavam o antigo Jujitsu, denominou de JUDÔ
KODOKAN, destinada à formação e preparação integral do homem através das
atividades físicas de luta corporal e do aperfeiçoamento moral, sustentada
pelos princípios filosóficos e exaltação do caráter, que era a essência do
espírito marcial dos samurais, o “Budo”.
Jigoro
kano transformou a arte marcial do antigo Jujitsu no “caminho da suavidade” em
que através do treinamento dos métodos de ataque e defesa pode–se adquirir
qualidades mais favoráveis à vida do homem, sob três aspectos: condicionamento
físico, espírito de luta e atitude moral autêntica.
A
primeira qualidade, condições física, é obtida pela prática do esporte que
exige esforço físico extenuante, de forma ordenada e metódica para proporcionar
um corpo forte e saudável. Pois todas as funções corporais tornam-se melhor
adaptada pela atividade que promove aumento de força muscular geral, da
resistência, da coordenação, da agilidade e do equilíbrio. Devido ao
treinamento rigoroso, também, o indivíduo tende a tomar mais cuidado com a sua
saúde, prevenindo doenças e condicionando a reagir reflexivamente para evitar
acidentes.
A segunda qualidade, espírito de luta, significa que pela prática das técnicas do
Judô e pela incorporação dos princípios filosóficos durante os treinamentos, o
indivíduo se torna mentalmente, condicionado a proteger seu próprio corpo em
circunstâncias difíceis, defendendo-se quando ameaçado perigosamente. Com o
treinamento, adquire autoconfiança e autocontrole, não para fugir do perigo,
mas para adotar medidas e iniciativas em qualquer situação. Em outras palavras,
o Judô é uma arte para a autoproteção total.
Por
último, a atitude moral autêntica é concebida através do rigor do treinamento,
que induz a humildade social, a perseverança, a tolerância, a cooperação, a
generosidade, o respeito, a coragem, a compostura e a cortesia. As experiências
obtidas durante o treinamento, por tentativa e erro e pela aplicação das regras
de luta, impõem mudanças de atitudes, elevando o poder mental da imaginação,
redobrando a atenção e a observação e firmando a determinação. Quanto falhas do
conhecimento social e de moralidade constituem-se em problemas, um método de
ensinar a cortesia entre as pessoas e melhorar a atitude social torna-se
importante e, por isso, o Judô, desempenha papel relevante nesse contexto, como
instrumento de formar e lapidar os verdadeiros caracteres morais do ser humano.
2 Princípios
Filosóficos
A
aquisição daquelas qualidades citadas anteriormente, tem como alicerce os três
princípios filosóficos definidos por Jigoro kano que, como ditado por ele mesmo
evidenciam a principal diferença entre o JUDÔ KODOKAN e o antigo Jujitsu: ”o
Judô pode ser resumido como a elevação de urna simples técnica a um principio
de viver” (Jitsu = técnica; Do = princípio). Esses princípios, mesmo não sendo
conscientemente esclarecidos e compreendidos, estão presentes em todos os atos
e atividades do praticante de judô. Por outro lado, quando o praticante tiver
fixado e tomar consciência dos princípios que norteiam o judô, pode-se
verificar que não são restritos ao Dojô, mas são igualmente válidos em qualquer
atividade da vida diária, quando se pretende atingir um determinado objetivo.
Os
três princípios do judô são :
·
JU = suavidade
·
SEIRYOKU-ZEN-YO = máxima eficiência com mínimo esforço
·
JITA-KYOEI = bem estar e benefícios mútuos
O
princípio da máxima eficiência é aplicado à elevação ou à perfeição do espírito
e do corpo na ciência do ataque e da defesa, exige primeiramente ordem e
harmonia de todos os membros de uma coletividade e isto pode ser atingido com o
auxílio e as concessões entre si para atingir a prosperidade e os benefícios
mútuos.
O
espírito final do judô, por conseguinte, é de incutir no íntimo do homem o
respeito pelos princípios da máxima eficiência, da prosperidade e benefícios
mútuos e da suavidade, para poder atingir, individualmente e coletivamente seus
estados mais elevados e ao mesmo tempo mais desenvolvidos na arte de ataque e
defesa.
O
professor Kano afirma o seguinte: “Ainda que eu considere o Judô dualisticamente,
a prosperidade e benefícios mútuos pode ser vista como sua finalidade última e
a máxima eficiência como meio para atingir esse fim. Essas doutrinas são
aplicáveis a todas as condutas do ser humano”.
3
Dados Biográficos do Prof. Jigoro Kano
·
28/10/1860 – Data de
nascimento.
· 1877 – Ingressa na Universidade
Imperial de Tóquio Torna-se aluno do Mestre Fukuda (Jujitsu).
·
1878 – Funda o primeiro clube
de basebol do Japão.
·
1881 – Licenciado em letras
Torna-se aluno da escola de Kito (Jujitsu).
· 1882 – Forma-se em Ciências
Estéticas e Morais Em fevereiro, funda a sua Escola da qual deu o nome Judô
Kodokan – Em agosto é nomeado professor no Colégio dos Nobres.
·
1884 – Nomeado adido do Palácio
Imperial.
·
1886 – Nomeado vice-presidente
do Colégio dos Nobres.
·
1889 – Viaja à Europa como
Adido da Casa Imperial.
·
1899 – Torna-se Presidente do
Butokukai (Centro de estudo de artes militares).
·
1907 – Elabora os três
primeiros Katas de Judô.
· 1909 – Torna-se membro do
Comitê Olímpico Internacional, como primeiro representante do Japão.
·
1911 – Eleito presidente da
Federação Desportiva do Japão.
·
1922 – Passa a Ter assento na
Câmara Alta do Parlamento Japonês.
·
1924 – Nomeado Professor
Honorário da Escola Normal Superior de Tóquio.
·
1928 – Participa da Assembléia
Geral dos Jogos Olímpicos de Amsterdã.
·
04/05/1938 – Morre a bordo do
navio que transportava ao Cairo onde se realizava a Assembléia geral do Comitê
Internacional dos Jogos Olímpicos.
4
Evolução Cronológica do Judô
·
1882 – Fundação do Judô
Kodokan.
·
1886 – Histórica competição
entre artes marciais, inclusive o Judô da qual vence o Judô Kodokan, passando
assim, a ser praticado pela polícia Japonesa.
·
1902 – O Judô chega aos Estados
Unidos.
·
1905 – O Judô chega à França.
· 1909 – Jigoro Kano torna-se
colaborador do Barão Pierre de Coubertin no movimento Olímpico, permanecendo
até a sua morte.
·
1947 – Primeira competição
entre França e Inglaterra.
·
1948 – Fundação da União
Européia de Judô.
·
1949 – Fundação da União
Asiática de Judô.
·
1951 – Primeira Competição na
Inglaterra com a participação da Argentina.
·
1952 – Fundação da União
Panamericana de Judô
·
1954 – Primeiro Campeonato
Brasileiro de Judô.
· 1956 – Primeiro Campeonato
Mundial de Judô em Tóquio. Primeira participação do Brasil em um campeonato
Internacional; o segundo Campeonato Panamericano.
·
1957 – Fundação da União
Oceânica de Judô.
·
1958 – Fundação da Federação
Paulista de Judô.
·
1963 – Fundação da União Africana
de Judô.
· 1964 – O judô é aceito nos
jogos Olímpicos de Tóquio, com apenas três categorias.
· 1969 – Fundação de Confederação
Brasileira de Judô. Até então, o judô era regido pela Confederação Brasileira
Pugilismo.
·
1972 – O judô passa a ser
definitivamente esporte olímpico.
5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALLEJA,
C. C. JUDÔ. Caderno Técnico-Didático. Ministério
da Educação Cultura, Brasil: MEC, 1982.
COMITÉ
D’EDITION KODOKAN. Judô Kodokan
lilustré. Tokyo: Daí Nipon Yubenkai Kodansha, 1995.
KANAYAMA,
D. Dados Biográficos de Jigoro Kano e
Evolução Cronológica do Judô.
KANO, J. Kodokan Judô. Tokyo: Kodansha International, 1994
OTAKI, T.; DRAEGER, D. F. Judo Formal Techniques. Charies E. Tokyo:
Turtie Co., 1990.
SHINOHARA,
M. Manual Prático de Judô Vila Sônia.
São Paulo, 1982
SUGIZAKI, M. Curso de Judô. Departamento de Educação
Física, Faculdade de Ciências, Bauru: UNESP-Campus de Bauru, 1992.
6 JUJUTSU TRANSFORMA-SE NO JUDÔ
Muitas
pessoas estão, sem dúvida, familiarizadas com os termos jujutsu e Judo, mas
quantos conseguem fazer distinção clara entre eles? Aqui, explicarei os dois
termos e por que o Judo veio ocupar o lugar do jujutsu.
As
artes marciais foram praticadas no Japão durante o período feudal: como a
lança, arco e flecha, esgrima e muitas outras. O jujutsu era uma delas, também,
chamado Taijutsu e Yawara. Era um sistema de ataques que envolvia projeções,
pancadas, cuteladas perfurantes e lacerantes, estrangulamentos, cotoveladas,
joelhadas e imobilizações do oponente, bem como a defesa contra esses ataques.
Embora
as técnicas do jujutsu fossem conhecidas desde os tempos mais primitivos, até a
última metade do século XVI, o jujutsu não era praticado nem ensinado
sistematicamente. Durante o período Edo (1603-1868) transformou-se numa arte
complexa, ensinada por mestres de numerosas escolas.
Na
minha juventude estudei o jujutsu com muitos mestres eminentes. O vasto
conhecimento deles, fruto de muitos anos de pesquisa diligente e de ricas
experiências, foi de grande valor para mim. Naquele tempo, cada indivíduo
apresentava sua arte como uma coleção de técnicas e ninguém conseguia perceber
o princípio diretivo fundamental que estava por trás do jujutsu. Quando eu
encontrava diferenças no ensinamento das técnicas, freqüentemente, me via
perdido e sem saber o que era correto.
Isso
levou-me analisar um princípio básico no jujutsu, aplicado quando alguém ataca
um oponente, bem como, quando ele o projeta.
Após
fazer um completo estudo do assunto, pude distinguir esse princípio, que
entendi como sendo universal: fazer o uso mais eficiente da energia física e
mental. Com esse princípio no pensamento, eu fiz revisão de todos os métodos de
ataque e defesa que aprendi, retendo somente aqueles que estavam de acordo com
o princípio. Os que não estavam de acordo eu rejeitei e, em seu lugar,
substitui por outras técnicas em que o princípio era corretamente aplicado. O
corpo de técnicas resultantes eu chamei de Judo que é aquele ensinado na
Kodokan para diferenciar do seu antecessor.
As
palavras jujutsu e Judo são escritas com dois caracteres chineses, cada uma. O
ju em ambas é o mesmo e significa “suavidade” ou “via de ceder”. O significado
de jutsu é “arte, prática”. Do significa “princípio ou caminho”, entendendo o
conceito de caminho como sendo a própria vida. Jujutsu pode ser traduzido como
“arte suave” e com a implicação de ter significado final, unicamente, de vencer
o oponente. Judo é interpretado como o “caminho da suavidade”. Como poderemos
ver no próximo capítulo, Judo é mais que uma arte de ataque e defesa, é um
estilo de vida. Kodokan significa, literalmente, “escola para estudar o
caminho”.
Para
explicar o significado de “suavidade” ou “via de ceder”, vamos dizer que um
indivíduo se encontra à minha frente, cuja força é mensurada em dez unidades e
que a minha força seja de sete unidades. Se ele me empurrar com toda sua força,
seguramente eu me deslocarei para trás ou serei derrubado, mesmo que eu resista
com toda minha potência, isto é, opondo força contra força. Mas, se ao invés de
me opor a ele, eu me afastar na direção do empurrão, desviando meu corpo e
mantendo o equilíbrio, meu oponente perderá seu equilíbrio. Enfraquecido por sua
posição instável, ele será incapaz de usar toda sua força que estará, então,
diminuída para três unidades. Tenho mantido o equilíbrio, minha força
permaneceu como sete unidades. Nessa situação, estou mais forte que meu
oponente, assim poderei derrotá-lo usando somente metade de minha força e
guardando a metade disponível para outro propósito. Mesmo quando for mais forte
que seu oponente, primeiro, é melhor se afastar. Assim procedendo, pode-se
conservar sua energia enquanto esgota a de seu oponente.
Isso
é apenas um exemplo de como derrotar um oponente pela via de ceder. Devido ao
fato de muitas técnicas fazerem uso deste princípio que a arte foi denominada
jujutsu. Vamos ver outros exemplos dos feitos que podem ser acompanhados com o
jujutsu.
Supondo
que um indivíduo se encontre à minha frente, tal como um tronco apoiado numa
extremidade. Ele pode ser empurrado para frente ou para trás, a fim de ser
desequilibrado, com um único dedo. No momento que ele inclinar para frente, se
eu colocar meu braço em sua espalda e, rapidamente, deslocar meu quadril a sua
frente, fazendo com que se torne um fulcro (ponto de apoio da alavanca). Para
projetar o indivíduo ao solo, tudo que preciso fazer é girar meu quadril
ligeiramente e puxar seu braço ou sua manga, mesmo que ele seja muito mais
pesado.
Numa
outra situação vamos dizer que eu tento produzir o desequilíbrio de um
indivíduo para frente mas ele dá um passo adiante, com um dos pés. Ainda,
assim, posso projetá-lo, facilmente, apenas pressionando a planta de meu pé
logo abaixo do tendão de Aquiles, de sua perna avançada, uma fração de segundo
antes que ele transfira todo peso sobre esse pé. Este é um bom exemplo do
eficiente uso da energia, pois, apenas com um leve esforço, posso derrotar um
oponente de força considerável.
O
que fazer quando um indivíduo investe sobre mim e me empurra? Ao ser empurrado,
se eu segurar seus braços ou seu colarinho com ambas as mãos, colocar a planta
de um do pés contra a porção inferior do abdômen e deitar estendendo minha
perna, posso fazê-lo dar rodopiar por cima de minha cabeça.
Por
outro lado, supondo que meu oponente se incline para frente e me empurre com a
mão, se eu ceder e agarrar na parte superior da manga de seu braço estendido,
isso o fará desequilibrar. Se eu girar o corpo, rapidamente, para que a minha
costa fique em contato com seu peito, e segurando com minha mão livre sobre seu
ombro e me curvar, ele será arremessado sobre minha cabeça e cairá pranchado
sobre sua espalda.
Como
mostram esses exemplos, para arremessar um oponente, o uso do princípio de
alavanca é, algumas vezes, mais importante do que simplesmente ceder. Além
disso, o Jujutsu, também inclui outras formas de ataque direto, tal como
pancada, ponta pé e estrangulamento e, nesse aspecto, a “arte de ceder” não
traduz seu verdadeiro significado. Se aceitarmos o Jujutsu como a arte ou
prática para a via de ceder, então devemos aceitar o Judô como sendo o caminho
ou o princípio para chegarmos a essa meta através da verdadeira compreensão do
uso mais eficiente da energia física e mental.
Em
1882, eu fundei a Kodokan para ensinar Judo e dentro de poucos anos o número de
estudantes cresceu rapidamente. Eles vieram de toda parte do Japão e muitos
tiveram que deixar os mestres do Jujutsu par treinar comigo. Consequentemente o
Judo deslocou o Jujutsu e ninguém, em qualquer época, citou o Jujutsu como
sendo uma arte contemporânea no Japão, embora a palavra tenha sobrevivido no
estrangeiro.
7 PRINCÍPIOS E PROPÓSITOS DO JUDO
KODOKAN
7.1
JUDO COMO EDUCAÇÃO FÍSICA
Incentivado
pelo sucesso de aplicar o princípio da máxima eficiência às técnicas de ataque
e defesa, então questionei se o mesmo princípio não poderia ser empregado para
melhorar a saúde, ou seja, ser aplicado à educação física.
Muitas
opiniões foram formuladas para responder a questão: qual é o propósito da
educação física? Após dispensar a esse assunto uma quantidade infindável de
ponderações e fazer inúmeros intercâmbios com outras pessoas instruídas e
cultas, conclui que seu propósito é tornar o corpo forte e saudável, ao mesmo
tempo em que se constrói o caráter da disciplina mental e moral. Tendo
esclarecido o propósito da educação física, vamos ver como os métodos comuns
desse processo obedecem aos princípios da máxima eficiência.
As
vias pelas quais as pessoas treinam seus corpos podem ser muitas e das mais
variadas formas mas, invariavelmente, elas caem em duas categorias gerais:
esportes e ginástica. É difícil generalizar sobre esportes, desde que existem
muitas modalidades diferentes e elas compartilham de uma importante
característica: são de natureza competitiva. O objetivo imaginado para eles não
tem sido de favorecer o desenvolvimento físico balanceado ou garantia de saúde.
Inevitavelmente, alguns músculos são, consistentemente, forçados ao trabalho
enquanto outros são negligenciados. No processo, algumas vezes são produzidos
danos em várias partes do corpo. Muitos esportes não podem ser totalmente
considerados como educação física, de fato, deveriam ser descartados ou
melhorados, porque falham no uso mais eficiente da energia física e mental e
impedem o progresso para atingir o objetivo de promover saúde, força e
benefícios.
Em
contraste, a ginástica deve ser prontamente considerada como educação física. A
sua prática não é lesiva ao corpo, geralmente, é benéfica à saúde e promove o
desenvolvimento equilibrado do corpo. Contudo, a ginástica, tal como praticada
hoje, apresenta falhas em dois aspectos : interesse e utilidade.
Existem
muitas formas mais atraentes pelas quais a ginástica pode ser praticada. Dentre
elas, uma forma que eu defendo é constituída do grupo de exercícios que tenho
executado experimentalmente. Cada combinação de movimentos, dos membros,
pescoço e corpo, é baseada no princípio da máxima eficiência e representa uma idéia,
compondo uma série de exercícios que promove, efetivamente, o desenvolvimento
físico e moral harmonioso. Um outro conjunto de exercícios que eu criei, o
SEIRYOKU-ZEN-YO KOKUMIN TAIIKU (Educação Física Nacional de Máxima Eficiência)
é praticado na Kodokan. Seus movimentos não somente levam ao desenvolvimento
físico equilibrado mas, também, proporcionam o treinamento básico de ataque e
defesa.
Para
a educação física ser, verdadeiramente, efetiva ela deve estar baseada no
princípio do uso eficiente da energia física e mental. Estou convencido de que
os avanços futuros na educação física estarão em conformidade com esse
princípio.
7.2
DOIS MÉTODOS DE TREINAMENTO
Até
aqui tenho abordado os dois principais aspectos do treinamento do judo:
desenvolvimento do corpo e treinamento das formas de ataque e defesa. Os
métodos de treinamento fundamentais para ambos os propósitos são: KATA E
RANDORI.
KATA – significa “forma” : é um
sistema de movimentos pré-arranjados que ensinam os fundamentos de ataque e defesa.
Em adição às projeções e retenções (também praticadas no Randori, inclui
pancadas, chutes, cuteladas, golpes lacerantes e inúmeras outras técnicas. Isso
só utilizado no Kata porque esse treinamento se trata de praticar movimentos
pré-arranjados e cada um dos parceiros sabe o que o outro irá fazer,
antecipadamente.
RANDORI – significa “prática livre”:
os praticantes, aos pares disputam um contra o outro como se estivessem em
competição. Eles podem projetar, imobilizar, estrangular e aplicar chaves de
braço, mas não podem dar pancadas, chutes e empregar outras técnicas
apropriadas somente nos combates reais. As principais condições no randori são
que os participantes tomem cuidado de não causar lesões um ao outro e que sigam
a etiqueta do Judo, que é obrigatória para quem deseja obter o máximo benefício
de randori.
O
randori pode ser praticado tanto como treinamento dos métodos de ataque e
defesa ou como educação física. Em ambos os caso, todos os movimentos são
feitos de conformidade com o princípio da eficiência máxima. Se o objetivo é
treinamento em ataque e defesa, a concentração na execução adequada das
técnicas é suficiente. Mas além disso, randori é ideal para cultura física,
desde que envolve todas as partes do corpo e tal como a ginástica, todos os
seus movimentos devem ser intencionais e executados com esse espírito. O
objetivo desse treinamento físico sistemático é aperfeiçoar o controle sobre a
mente e o corpo e prepara o indivíduo para enfrentar qualquer emergência a um
ataque, acidental ou proposital.
7.2.1
TREINANDO A MENTE
Ambos,
Kata e randori são formas de treinamento mental mas, dentre, eles, o randori é
mais eficiente.
No
randori, o indivíduo deve explorar as fraquezas do oponente e estar pronto
para o ataque, com todos os recursos disponíveis que o momento e a oportunidade
se apresentam, sem violar as regras do Judo. Praticando o randori, o estudante
tende a tornar-se mais sério, determinado, sincero, atento, cauteloso e
deliberado na ação e, ao mesmo tempo, ele ou ela aprende a valorizar e tomar
decisões rápidas e agir prontamente, quer para atacar ou defender. Não há lugar
no randori para indecisões.
No
randori o indivíduo nunca pode estar seguro de qual a próxima técnica que o
oponente vai empregar, por isso deve estar constantemente em vigília. O estado
de alerta torna-se sua segunda natureza. O indivíduo adquire estabilidade
emocional pela autoconfiança adquirida do conhecimento de que ele está
preparado para qualquer eventualidade. O poder de atenção, observação e imaginação,
bem como, de raciocínio e julgamento são, naturalmente, intensificados pelo
treinamento e estes atributos são úteis tanto na vida diária como no dojo.
Praticar
o randori é conhecer as complexas relações físico-mental existentes entre os
companheiros. Centenas de valiosas lições podem ser extraídas deste estudo. No
randori aprendemos a empregar o princípio da máxima eficiência, mesmo quando
podemos, facilmente, sobrepor um oponente. Naturalmente, é muito mais precioso
vencer um oponente com a técnica adequada do que com a força bruta. Essa lição
é igualmente aplicável na vida diária: o praticante deve compreender que a
persuasão suportada por argumentos lógicos (bom senso) é, no final das contas,
mais efetivo do que o uso da força.
Uma
outra consideração sobre o randori é de aprender a aplicar a quantidade certa
de força, nem muito nem pouco. Nós temos conhecimentos de pessoas que falharam
nos seus objetivos porque não mediram apropriadamente a quantidade de esforço
requerido. Num extremo, eles ficam aquém do alvo e, no outro não sabem quando
parar.
Ocasionalmente,
enfrentamos um oponente que é obsessivo no seu desejo de vencer. Para tanto
devemos ser treinados a não resistir diretamente pelo uso da força mas para
disputar com o oponente, até que sua agressividade e força fiquem exauridos.
Aí, então devemos aproveitar a oportunidade para atacar. Essa lição pode ser
empregada, sempre que encontramos pessoas agressivas, em nossa vida diária e
desde que nenhum argumento surtirá efeito contra elas, tudo que podemos fazer é
esperar que se acalmem.
Há
diversos exemplos de contribuições que o randori pode dar para o treinamento
intelectual da mente dos jovens.
7.3
TREINAMENTO ÉTICO
Vamos
ver agora as vias pelas quais podemos obter uma compreensão do princípio da
máxima eficiência que constituí o treinamento ético.
Há
pessoas que são de natureza facilmente excitável e se tornam agressivas pela
mais trivial das razões. O Judo pode levar essas pessoas aprender a se
controlar, através do treinamento e, rapidamente, elas entendem que a
agressividade é um desperdício de energia que causa efeitos negativos em si
próprio e nos outros.
O
treinamento de Judo é, também, extremamente benéfico para aqueles com ausência
de confiança em si próprio, devido a falhas no passado. O Judo nos ensina a
escolher o melhor curso possível de ação, qualquer que sejam as circunstancias
individuais e ajuda-nos a compreender que a ansiedade é uma perda de energia.
Paradoxalmente, um indivíduo que falha e outro que atinge o máximo do sucesso
estão exatamente na mesma posição, pois cada um deve decidir o que fará a
seguir: escolher o caminho que o levará ao próximo passo. Numa primeira
instância, os ensinamentos de Judo dão a cada um o mesmo potencial de sucesso,
procurando conduzir o indivíduo e sair da letargia e desapontamento, para
estabelecer uma atividade vigorosa.
Outros
tipos que podem se beneficiar da prática do Judo são os cronicamente
descontentes que, prontamente, culpam outras pessoas por aquilo que é realmente
devido a sua própria falha. Essas pessoas devem entender que a constituição
negativa de sua mente vai contra o princípio da máxima eficiência e que viver
em conformidade com esse princípio é a chave para atingir um estado mental de
visão avançada.
7.4
ESTÉTICA
A
prática do Judo traz muita satisfações: o prazer de sentir o exercício
conduzido aos músculos e nervos, a satisfação de dominar os movimentos e a
alegria de vencer sua competição.
Não
menos que isso, tem-se a beleza e o encanto de executar técnicas elegantes e a
opção de obter outras performances significativas. Essa é a essência do lado
estético do Judo.
8 JUDÔ ALÉM DO DOJO
No
Judo temos como análise racional, a concepção de que as lições apreendidas nos
confrontos encontrarão aplicação não somente nos treinamentos futuros mas,
também, para compreensão do mundo, em sentido amplo. Aqui eu gostaria de
apontar cinco princípios básicos e mostrar, sucintamente como eles atuam no
domínio social.
Primeiro,
o conceito de que o indivíduo deve dar toda atenção ao relacionamento entre ele
e seu oponente, antes de realizar um ataque, deve observar o peso, a
constituição física, os pontos fortes, o temperamento, etc.. Ele pode estar,
todavia, consciente de suas próprias forças e fraquezas e sua visão pode avaliar
criteriosamente, o ambiente. Quando o combate for promovido ao ar livre, ele
deve inspecionar a área coisas, tais como pedras, desníveis e muros. No dojo,
ele observar as paredes, as pessoas e outras obstruções potenciais. Se
observar, cuidadosamente, todas essas coisas, então a forma correta para
derrotar o oponente surgirá naturalmente.
O
segundo ponto tem a ver com a tomada de iniciativa. Praticantes de jogos de
tabuleiros como xadrez estão familiarizados com a estratégia de promover
um movimento em que se deseja conduzir o outro jogador numa certa direção. Esse
conceito é claramente aplicável tanto no Judo como em nossa via diária.
Sucintamente,
o terceiro ponto é refletir, integralmente, para agir com determinação. A
primeira frase está estreitamente relacionada com o ponto acima mencionado,
isto é, um indivíduo deve avaliar meticulosamente seu adversário antes de
executar uma técnica. Isto feito, o conselho dado na segunda frase deve ser
seguido, automaticamente, Agir com determinação significa executar sem
hesitação e sem segundas intenções.
Tendo
mostrado como proceder, eu gostaria agora de aconselhar quando deve parar. Isso
pode ser estabelecido muito simplesmente, pois, quando um ponto predeterminado
for atingido, é tempo de cessar a aplicação de técnicas ou qualquer que seja a
ação.
O
quinto e último ponto evoca toda a essência do Judo e está contido no seguinte
depoimento: andar por um caminho simples, sem se tornar arrogante com a vitória
nem humilhado com a derrota; sem esquecer a cautela quando tudo é silêncio ou
tornar-se amedrontado quando ameaçado pelo perigo. Está implícito aqui a
censura de que, se nos deixarmos levar pelo sucesso da vitória,
inevitavelmente, a derrota virá em seguida.
Também,
significa que o indivíduo deve, sempre, estar preparado para o combate, mesmo
no momento seguinte após obter uma vitória.
O
praticante de Judo deve manter esses cinco princípios, permanentemente, na sua
mente. Aplicando-os no local de trabalho, na escola, no mundo político ou
qualquer outra área da sociedade, ele verificará que os resultados serão sempre
benéficos.
Repetindo,
o Judo é uma disciplina física e mental cujas lições são, prontamente,
aplicáveis às condutas de nossos compromissos diários. O princípio fundamental
do Judo é aquele que governa todas as técnicas de ataque e defesa e, qualquer
que seja o objetivo, poderá ser atingido com melhor resultado pelo uso da
máxima eficiência do corpo e da mente para aquele propósito. Esse mesmo
princípio aplicado as nossas atividades cotidianas leva a uma vida racional
mais elevada.
O
treinamento das técnicas de Judo não é a única via para compreensão desse
princípio universal, mas é a forma como eu cheguei ao entendimento dele e pela
qual tento iluminar os meus discípulos.
O
principio da máxima eficiência, ao ser aplicado na arte de ataque e defesa ou
para aprimorar e aperfeiçoar a vida, acima de tudo, demanda ordem e harmonia
entre as pessoas. Isso só se consegue através do auxílio e da concessão mútua,
tendo como resultado o mútuo bem-estar e benefícios comuns. O propósito final
da prática de Judo é para introduzir o respeito aos princípios da máxima
eficiência e do bem-estar e benefícios mútuos. Através do Judo as pessoas
podem, individualmente ou coletivamente, atingir seu mais elevado estado
espiritual e, ao mesmo tempo, desenvolver fisicamente seus corpos e aprender a
arte de ataque e defesa.
9 PONTOS BÁSICOS DO TREINAMENTO
9.1
O DOJO
O
Judo deve ser praticado num local especialmente projeta, conhecido como dojo. A
área de pratica deve ser destituída de quinas cortantes e obstruções
potencialmente perigosas, tais como pilares e ter as paredes, geralmente,
forradas. O piso do local deve ser revestido com esteira, de tamanho e forma
idênticas aos tatamis usado nas casas residenciais, para absorver o impacto das
quedas. Muito cuidado deve ser tomado para que as esteiras estejam niveladas e
ajustadas, sem espaço entre elas, para evitar lesões, especialmente nos pés. As
esteiras rasgadas e danificadas devem ser, rapidamente reparadas ou
substituídas. Quando alguém visita um dojo, pela primeira vez, deve-se fazê-lo
admirar com a manutenção da limpeza e impressionar com a atmosfera solene.
Devemos lembrar que a palavra dojo deriva de um termo budista, que se refere ao
”lugar iluminado”.
Tal
como um mosteiro, o dojo é um lugar sagrado onde as pessoas vão aperfeiçoar o
corpo e a mente.
A
prática de Randori e Kata deve ser feita no dojo assim como a realização dos
combates e das disputas.
9.2
O JUDOGUI
O
conjunto de jaqueta, calça e faixa usadas na prática do Judo são chamados de
judogui. A jaqueta e a calça são brancas e a faixa varia de cor conforme a
graduação do usuário.
Iniciantes,
sem qualquer graduação, usam faixa branca. Quando atingir a graduação de kiyu
usam faixas coloridas, sendo o mais avançado nessa classe o primeiro kyu, que
usa a faixa marrom. Aqueles que são graduados de primeiro a quinto dan usam
faixa preta. A partir do sexto dan a faixa é do tipo coral, com bandas branca e
vermelha alternadas. Nono e décimo dan usam faixa vermelha. Os possuidores de
sexto dan e acima podem, contudo, usar faixa preta, se preferir.
9.3
ETIQUETA NO DOJO
Antes
e após praticar o Judo ou engajar-se num combate, os oponentes se reverenciam
entre si. A saudação é uma expressão de gratidão e respeito. De fato, pode-se
agradecer seu oponente por lhe dar a oportunidade de melhorar sua técnica. A
saudação é executada tanto na posição sentado (za-rei) como na posição ereta
(ritsu-rei).
Para
realizar a saudação na posição sentado, os contendores ficam distantes um do
outro, a cerca de 1,5 metro, ajoelhados com o dorso do pé faceando o tatame. Os
joelhos devem ficar ligeiramente afastados, quadril descansado sobre o
calcanhar, mãos sobre a coxa. As mãos se deslocam sobre a esteira, de 10 a 12
centímetros a frente dos joelhos, com as pontas dos dedos voltados levemente
para o interior. Curva-se a partir da cintura com a cabeça e pescoço formando uma
linha reta em relação a costa.
Para
a saudação na posição ereta, os contendores devem se colocar, a cerca, de dois
metros distantes um do outro. Então eles se flexionam para a frente, a partir
da cintura deixando as mãos deslizar da lateral para a frente de suas pernas,
até que seu corpo forme um ângulo de aproximadamente, 30 graus.
A
saudação sentada é mais formal, sempre executada antes e após a prática de
Kata. Também deve ser dirigida aos professores e instrutores quando entrar e
sair do dojo. Antes e após o randori deve-se fazer a saudação na posição ereta.
Dependendo
das circunstâncias, os contendores podem saudar de distâncias maiores, mas
devem sempre mostrar sinceridade.
Por
outro lado, é esperado dos praticantes de Judo exibir decoro apropriado no
dojo. O dojo não é local para conversa leviana ou comportamento frívolo. Os
praticantes podem não estar praticando da prática ou de um combate, mas,
enquanto descansam, eles devem observar as outras práticas, pois fazendo
aprendem alguma coisa. Comer, beber e fumar não é tolerado no dojo, pois os
praticantes são compelidos a mantê-lo asseado e limpo.
A
higiene pessoal, também, é importante. Os praticantes devem estar limpos e
manter suas unhas das mãos e dos pés aparadas para evitar que provoque
ferimentos nos outros. O judogui deve ser lavado regularmente e qualquer rasura
remendar imediatamente. Para atingir o melhor rendimento do treinamento deve-se
ter , sempre, moderação na alimentação, bebida e sono.
10 A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA REGULAR
Os
praticantes, algumas vezes, se enganam em seus treinamentos, tanto praticando
demais como de menos. A prática insuficiente é o problema mais comum.
O
real valor do Judo só aparece como resultado da prática regular. Para obter o
máximo beneficio físico, mental e espiritual do Judo, deve-se praticar todos os
dias sem falhar. Quando for impossível treinar no dojo, deve-se pelo menos,
executar o Seyrioku Zen’yo Taiiku – no Kata.
11 UMA PALAVRA DE PRUDÊNCIA
Nos
estágios iniciais do treinamento de Judo, os praticantes especialmente os
jovens, algumas vezes sentem-se provocados a experimentar técnicas aprendidas
recentemente em pessoas que não estão preparadas. Tal comportamento é
irresponsável e altamente perigoso. Nunca devemos abusar das técnicas do Judo,
porque podem resultar em lesões sérias ou mesmo na morte. Não é necessário
dizer que isso vai contra o espírito do Judo.
A
única justificativa que se tem para aplicar as técnicas de Judo fora do dojo é
quando ocorre perigo físico imediato.
Lançando
mão de comportamento inadequado, o indivíduo coloca a si próprio em grave
perigo. Com certeza, sempre encontrará indivíduos mais fortes e não se sabe o
que poderá acontecer. Quando se está desprevenido ou quando não está em
vigília, ninguém tem chance de se defender, mesmo contra um atacante mais
fraco. Se ele não tiver tentado experimentar sobre outros, o praticante,
seguramente, estará numa condição de repreender qualquer pessoa que hesite
alguma coisa consigo. Fora do treinamento, é proibido experimentar técnicas que
tenha aprendido.
Sobre
a insensatez do abuso pelos conhecimento adquirido através do treinamento do
Judo, tem-se a seguinte história que foi transmitida para nós, do passado.
Um
certo estudante, ávido por testar suas técnicas, todas as noites ia um ponto
isolado de uma estrada e ficava esperando por algum transeunte ocasional.
Quando alguém aparecia, ele pulava em cima e aplicava uma de suas técnicas de
projeção.
Conseqüentemente,
seu professor recebeu informações da ação desse indevido. Disfarçando-se, uma
noite o professor foi ao local e o estudante, não tendo reconhecido o
professor, saiu precipitadamente e atacou-o como de costume. O professor
deixou-se arremessar, então lentamente se levantou e disse ao estudante para
examinar sua lateral. Descobrindo quem era o homem, o estudante rapidamente
baixou o olhar. Havia no seu lado direito uma risca de graxa que seu professor
aplicou enquanto era arremessado, indicando que poderia facilmente tê-lo matado
com um golpe de atemi. Humilhado por sua experiência, o estudante nunca mais e
aventurou para testar suas técnicas em transeuntes inocentes.
12 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA